9 Crimes - Damien Rice

domingo, 20 de janeiro de 2013

"Meu amores", por uma qualquer

Meu primeiro amor não teve nada de encantado como me prometera os filmes.
Pensara nela a tarde toda.
Foi quando percebi, horrorizada, o quão eu realmente a gostava. Fiquei em pânico. Eu estaria apaixonada?
Era a maneira que ela olhava e falava comigo. Eu gostava disso.
Todas as mulheres têm sua beleza. Na maneira com que falam, no olhar sincero, nos lábios convidativos... E ela era algo diferente de todas elas.
Eu sentia-me estremecer quando ela fitava-me de canto. Às vezes, eu falava alguma bobagem e então seus olhos se tornavam insinuosos, dir-se-ia até maliciosos não fosse o sorriso que mostrava escondido no canto dos lábios. Era a maneira mais gentil e sedutora que se poderia retribuir alguém que fala asneiras. Mas isso tudo era porque fazia de tudo para que risse. Porque quando ria era como descobrir a beleza da vida e admira-la por poucos segundos até quando, sem graça, encerrava o riso. Seus olhos se tornavam embaraçados e suas bochechas robuças, vermelinhas. Ah, eu tinha vontade de mordê-la, enchê-la de beijos.
Nada era mais interessante do que o que ela falava. Eu sentia que poderia ouvi-la horas e horas e nunca me cansaria. Eu poderia ouvir denovo!
As pessoas julgavam seus assuntos estranhos, mas eu diria que eles só não são convencionais. Ela gostava de falar o quanto prefere feijão do que arroz ao invés de falar da roupa da moda, a última música do momento ou do João que saiu com a Maria. Ela preferia falar suas teorias para todas as coisas. Eu sintia que estava conhecendo cada partezinha dela cada vez mais e que estava me atirando em um infinito desconhecido, porém belo!
Perguntei, uma vez, como é que poderia ser assim tão reservada em sentir vergonha de rir aos outros, mas ao mesmo tempo tão extrovertida em expor suas idéias mais loucas. Ela respondeu-me que existem pessoas raras nesse mundo com quem sentimos que podemos compartilhar de tudo, disse que eu era uma dessas, que nunca debocharia das suas idéias mais loucas e que faria de tudo pra tentar compreender, que ela até mesmo esquecia, ás vezes, o quão era tímida ao meu lado.
Lembro-me de uma vez, estavamos falando sobre o tema de ciências, e ela já parecia absorta por qualquer coisa que não fosse o que eu falava. Fitava o chão, mas me respondia. Foi quando me interrompeu em meio a fala e perguntou: "Já imaginou como seria se o céu fosse cinza e o asfalto fosse azul?" Eu gostava da maneira como pensava. Da maneira extrovertida com que nos perguntava coisas que nem faziam sentido.
Estava claro: Ela era um mar de fantasias, um sonho para quem a ouvisse. E eu era alguém que queria viver esse sonho.

Acalmei-me, minha segunda reação ao digerir bem a descoberta foi pensar que agora eu era uma menina que estava apaixonada por outra. Isso viria a me causar diversas dores de cabeça no futuro, eu sabia.
Nada em meu interior quis lutar contra esse fato de amor "anti-moralista", eu aceitei desde o princípio que isso era só mais uma condição, uma consequência de todas as que estar apaixonado provoca. Estar apaixonada é o que eu não queria aceitar.
Viver um descaso por quê? Ela não me quereria. E eu não iria querer mais uma ilusão por agora. Já me bastava todas as que tinha!
Não, obrigado, Clara. Você não iria governar meu coração.

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