9 Crimes - Damien Rice

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Carta de Marius à Cosette

"A redução do universo a uma única criatura, a dilatação de um único ser até Deus, eis o amor.
O amor é a saudação dos anjos aos astros.
Como a alma é triste quando sua tristeza provém do amor!
Que vazio é a ausência do ser que sozinho encheria o mundo! Oh! como é verdade que o ser amado se transforma em Deus. É fácil compreender como Deus sentiria ciúme se o Pai de todas as coisas não tivesse evidentemente feito a criação para a alma, e a alma para o amor.
Basta um sorriso entrevisto ao longe sob um chapéu de tule branco e coifa lilás, para que a alma entre no paraíso dos sonhos.
Deus está por trás de tudo, mas tudo a Deus esconde. As coisas são negras, as criaturas são opacas. Amar alguém é torná-lo transparente.
Certos pensamentos são verdadeiras preces. Há momentos em que, seja qual for a atitude do corpo, a alma está de joelhos.
Os amantes separados iludem a ausência por mil e uma quimeras que têm no entanto a sua realidade. Impedem-nos de se verem, interceptam-lhes as cartas; eles porém encontram meios misteriosos de se corresponderem: pelo canto dos passarinhos, o perfume das flores, o riso das crianças, a luz do sol, os suspiros do vento, o brilho das estrelas, a criação inteira. E por que não? Todas as obras de Deus são feitas para servir o amor. O amor é bastante poderoso para encarregar toda a natureza de levar-lhe as mensagens.
Ó primavera! Você é a carta que eu lhe escrevi.
O futuro pertence bem mais aos corações do que aos espíritos. Amar, eis a única coisa capaz de ocupar e encher a eternidade. Ao infinito convém o inesgotável.
O amor participa da própria alma. Tem a mesma natureza que ela.
Como a alma, é uma fagulha divina; como a alma, é incorruptível, indivisível, imperecível. É um ponto de fogo que está em nós, que é imortal e infinito, que nada pode limitar ou extinguir. Nós o sentimos queimar até a medula dos ossos e o vemos brilhar até a imensidão dos céus.
Ó amor! adorações! prazer de dois espíritos que se compreendem, de dois corações que se confundem, de dois olhares que se penetram! Não é verdade que os hei de ter — ó felicidade! — passeios a dois na solidão, dias abençoados e brilhantes! Às vezes chego a pensar que, de quando em quando, algumas horas se destacam da vida dos anjos e vêm até o mundo para atravessar o destino dos homens. Deus nada pode acrescentar à felicidade dos que se amam senão tornando-os eternos. Depois de uma vida de amor, uma eternidade de amor é com efeito um acréscimo; mas aumentar em sua própria intensidade a felicidade inefável que o amor dá à alma desde este mundo, isso é impossível, mesmo a Deus. Deus é a plenitude do céu; o amor é a plenitude do homem.
Contemplamos uma estrela por dois motivos: porque é luminosa e porque é impenetrável; e, no entanto, temos ao nosso lado um brilho mais suave e um mistério maior ainda, a mulher.
Todos nós, quem quer que sejamos, temos a necessidade de respirar. Se nos falta o ar, ficamos sufocados e morremos. Morrer por falta de amor é horrível. É a asfixia da alma.
Quando o amor fundiu e unificou duas almas, numa unidade angélica e sagrada, foi que ambas encontraram o segredo da vida; não são nada mais que os dois termos de um mesmo destino, as duas asas de um mesmo espírito. Amem, flutuem! No dia em que uma mulher, passando à sura frente, iluminar o seu caminho, você está perdido: é o amor. Então, só lhe restará uma coisa: pensar nela tão fixamente que ela se veja constrangida a pensar em você.
O que o amor começa não pode ser acabado senão por Deus.
O verdadeiro amor se desola e se encanta por uma luva perdida ou por um lenço encontrado, e precisa de uma eternidade para sua dedicação e esperanças. Ele se compõe, ao mesmo tempo, do infinitamente grande e do infinitamente pequeno. Se você é pedra, seja ímã; se é planta, seja sensitiva; se é homem, seja amor.
Para o amor, é bastante. Termos a felicidade, queremos o paraíso; temos o paraíso, queremos o céu.
Vocês que tanto se amam, tudo isso está no amor. Saibam encontrá-lo. O amor tem tanta contemplação como o céu, e mais do que o céu, tem o prazer.
- Ela ainda vem ao Luxembourg? – Não, senhor. – É nesta igreja que ela ouve a missa, não é? – Eles não aparecem mais por aqui. – Ela ainda mora nesta casa? – Não; mudou-se. – Para onde? – Ela não disse.
Que tristeza não se saber o endereço da própria alma!
O amor tem infantilidades, as outras paixões têm mesquinhez. Vergonha às paixões que tornam o homem mesquinho! Honra àquela que o faz criança!
É uma coisa estranha, sabem? Eu vivo na noite. Há alguém que, ausentando-se, levou consigo o céu.
Oh! jazer um ao lado do outro no mesmo túmulo, de mãos dadas, e de quando em quando, nas trevas, acariciar docemente um dedo; isso bastaria para a minha eternidade.
Vocês que sofrem porque amam, amem mais ainda. Morrer de amor é viver.
Amem . A esse suplício alia-se uma sombria e estrelada transfiguração.
Há êxtase na agonia.
O alegria dos passarinhos! Eles cantam porque têm um ninho.
O amor é uma respiração celeste do ar do paraíso.
Corações profundos, espíritos sábios, recebam a vida como Deus a fez. É uma longa prova, uma preparação, ininteligível para um destino desconhecido. Esse destino, o verdadeiro, começa para o homem no primeiro degrau que desce para o túmulo. Só então lhe aparece alguma coisa, e ele começa a distinguir o definitivo. O definitivo, pensem nessa palavra. Os vivos vêem o infinito; o definitivo só se deixa ver pelos mortos. Enquanto isso, amem e sofram, esperem e contemplem. Desgraçado de quem não tiver amado senão os corpos, as formas, as aparências! A morte roubar-lhe-á tudo. Procurem amar as almas, e tornarão a encontrá-las.
Encontrei pela rua um jovem muito pobre que amava. Seu chapéu estava velho, a casaca muito usada com os cotovelos rotos; a água passava através de seus sapatos e os astros através de sua alma.
Que grande coisa ser amado! Maior ainda é amar! O coração torna-se heróico à força da paixão. Ele não se compõe mais senão de pureza; não se apóia senão no que é nobre e grandioso. Um pensamento indigno nele pode germinar tanto quanto uma urtiga no gelo. A alma alta e serena, inacessível às paixões e às emoções vulgares, dominando as nuvens e as sombras deste mundo, as loucuras, as mentiras, os ódios, as vaidades, as misérias, mora no azul do céu, e não sente senão os abalos profundos e subterrâneos do destino, como o alto das montanhas sente os tremores de terra.
Se não houvesse quem amasse, o sol se extinguiria”.



Victor Hugo em Os Miseráveis - pág. 826,827,828

domingo, 20 de janeiro de 2013

"Meus amores", por uma qualquer 3 - ato final

Me casei duas vezes. Minha primeira mulher fora a mulher da minha vida. A perdi para outra. Ela julgou-me que não era boa o suficiente para ela, mas a outra também não fora. Nem a outra, nem a outra...
Sofri por ela. Fui eu quem mais lutei contra essa sua doença, enquanto ela não parecia fazer esforços para mudar. Apesar de tudo, ela foi a mulher mais encantadora que eu conheci. Era uma boa moça que se perdeu na vida, vítima da sua insatisfação. Um desperdício. Nunca compreendera que tinha o suficiente. Nunca fora feliz, para ela. Era linda, mas achava-se feia. E o tempo a tornou tudo o que pensava ser.
Vive sozinha em sua pequena ilusão.
No fim não sabe - como poderia? - mas vai ver é isso que a satisfaz: ser insatisfeita.
A segunda foi um erro de quem não aprende. Na verdade, é um erro chama-la de erro, mas é igual a todas as mulheres que conheci.
Apesar de tudo, não me incomoda. Já fomos muito apaixonadas, construímos muitas coisas.
Viver ao lado dela não é bom, nem é ruim. Viver ao lado dela é viver ao lado dela. E prefiro assim. Agora no fim da vida não tenho mais ânimo e não tenho mais alma para procurar e viver um novo amor.
Isso é privilégio da juventude. De quem ainda tem muito que machucar-se para celebrar poucos instantes de amor. E no final descobrir que nada sabe, nada valeu, nada viveu.

"Meu amores", por uma qualquer 2

Dito e feito. As próximas semanas foram um alívio. Eu não olhava mais a Clara com segundas intenções. Pensava até que havia cometido um engano terrível!! Que abobada, eu. Clara me perguntava porque tanto ria, mas não a diria que ria de mim mesma. Que ria também aliviada.
Meu alívio durou pouco. As próximas semanas que se seguiram foram um tormento para as minhas noites. Clara aparecera no colégio totalmente mudada. Seu cabelo ondulado estava liso. Havia tirado o aparelho e estava maquiada. Seu andar estava diferente. O que acontecera? Clara se portava totalmente diferente.
Apesar de tudo, havia apenas mudado externamente, o que foi novamente um alívio e melhor ainda: uma celebração! Ela estava ainda mais bonita que nunca!
Com o passar do tempo, as pessoas começaram a se aproximar de Clara.
Clara tinha um bom coração, ouvia a todos, compreendia-os e deixou que todos fizessem amizade com ela! Eu, por outro lado, a adverti que isso tudo era interesse demais para o meu gosto e que ela não poderia sair assim fazendo amizade com todos! Estava sobmersa de raiva e ciúmes. Clara percebeu isso e não se importou com o que disse. Pelo contrário, afastou-se de mim cada dia mais, lentamente.
Até hoje ainda não sei se foi inconscientemente.
O fato é que agora ela mudara, não só externamente. Estava mais decidida, mais independente, menos envergonhada, mais sensual, mais mulher. Estava magnífica! E o problema é que não fora só eu quem percebera isso.
As pessoas caiam aos seus pés. Ela sabia disso e se aproveitava.
O que só a deixava mais poderosa e aumentava o poder que havia nela, algo de forte.
Era a maneira com que ela conquistava todos a sua volta. Isso me deixava louca.
Eu acabei me excedendo e falei o que não devia, e ela escutou o que não precisava. Foi a primeira vez que brigamos. Acho que Clara nunca havia gritado com ninguém.
Existem certas coisas que se contarmos aos outros não vamos acrescentá-los em nada, só iremos ferí-los. E isso é uma crueldade sem limites. Nem mesmo eu quis me perdoar, quem diria Clara.
Fiquei com vergonha de ir atrás dela. Desculpas pareciam insuficientes.
Quis dar o tempo a ela, o melhor remédio.
Não preciso dizer que esse tempo foi uma tortura. Foi como assistir a um filho crescer de longe.
Arrumara um namorado, o clichê popular da escola. E todos sabemos que por ironia todo guri que é popular é sempre um troxa.
Traiu-a inúmeras vezes. Fez dela pedaços.
Foi um dia em que ela chorava que a vi escorada em um canto da escola.
Corri pra lá e a socorri, instintivamente. Foi só depois que dei-me por conta da situação e fiquei receosa, mas pareceu tarde demais, ela já havia me visto.
Foi quando perguntou, me vendo hesitar, o que eu estava fazendo ali.
Falei que não suportava vê-la chorar.
Então chorou mais ainda.
Me pediu perdão e disse que eu estava certa.
Fui humilde pra dizer que eu havia errado também.
Ela parecia um anjo chorando e aquilo partia meu coração.
Sentei ao seu lado, disse que ele não era homem que a merecia.
Ela apenas me olhou, como se fosse o que precisasse ouvir. Ficou com aquele olhar fitando-me. Era um olhar de espanto, não esperava ouvir isso. Mas agora parecia esperar alguma coisa.
E então, acho que nem ela mesmo não aguentou tal silêncio e me disse baixinho para que nunca mais a deixasse.
Aquilo foi torturoso, meu peito ardeu, queimou. A garganta secou e eu chorei.
E foi assim, molhado e um tanto amargurado, nosso primeiro beijo.
Pra dizer a verdade, tenho de o descrever assim em poucos detalhes porque nem mesmo eu lembro-me como ocorrera. Mas lembro-me dos beijos seguintes, todos muito discretos às escondidas pelo colégio. O que dava o que falar.
Naquela época o preconceito foi uma parte dificultosa. Pretexto para diversas das nossas brigas tolas. Eu queria que andassemos de mãos dadas, sem medo. E ela queria que permanecessemos discretas.
Quando contamos para a mãe da Clara as coisas pioraram. Ela foi contra até seu último fio de cabelo. O que pode fazer para que impedisse, fez. As nossas brigas agravaram e Clara começou a evitar-me.
Quando aparecia na casa de Clara sua mãe falava que ela não estava em casa, porém da janela, com sua cara de rude, ela esfregava o quão era ela que realmente não queria me ver. Tais coisas foram consumindo nosso amor.
Clara voltou a ver-me diversas vezes escondida de sua mãe, mas nosso amor já não era mais o mesmo. Não fui mais atrás da Clara - não tinha mais o interesse - e com o tempo ela não voltou a procurar-me. O nosso amor já havia morrido a muito mesmo.
É preciso envolver-se em diversos amores de infância, tramóias, enredos da vida para que se entenda do que o amor é feito. E mesmo assim, formamo-nos adultos que nada sabem sobre o amar.
Se julgam sábios de tantas coisas mas que nada sabem falar com certeza sobre o amor.
Não os culpo.
Que certeza teria o amor?

"Meu amores", por uma qualquer

Meu primeiro amor não teve nada de encantado como me prometera os filmes.
Pensara nela a tarde toda.
Foi quando percebi, horrorizada, o quão eu realmente a gostava. Fiquei em pânico. Eu estaria apaixonada?
Era a maneira que ela olhava e falava comigo. Eu gostava disso.
Todas as mulheres têm sua beleza. Na maneira com que falam, no olhar sincero, nos lábios convidativos... E ela era algo diferente de todas elas.
Eu sentia-me estremecer quando ela fitava-me de canto. Às vezes, eu falava alguma bobagem e então seus olhos se tornavam insinuosos, dir-se-ia até maliciosos não fosse o sorriso que mostrava escondido no canto dos lábios. Era a maneira mais gentil e sedutora que se poderia retribuir alguém que fala asneiras. Mas isso tudo era porque fazia de tudo para que risse. Porque quando ria era como descobrir a beleza da vida e admira-la por poucos segundos até quando, sem graça, encerrava o riso. Seus olhos se tornavam embaraçados e suas bochechas robuças, vermelinhas. Ah, eu tinha vontade de mordê-la, enchê-la de beijos.
Nada era mais interessante do que o que ela falava. Eu sentia que poderia ouvi-la horas e horas e nunca me cansaria. Eu poderia ouvir denovo!
As pessoas julgavam seus assuntos estranhos, mas eu diria que eles só não são convencionais. Ela gostava de falar o quanto prefere feijão do que arroz ao invés de falar da roupa da moda, a última música do momento ou do João que saiu com a Maria. Ela preferia falar suas teorias para todas as coisas. Eu sintia que estava conhecendo cada partezinha dela cada vez mais e que estava me atirando em um infinito desconhecido, porém belo!
Perguntei, uma vez, como é que poderia ser assim tão reservada em sentir vergonha de rir aos outros, mas ao mesmo tempo tão extrovertida em expor suas idéias mais loucas. Ela respondeu-me que existem pessoas raras nesse mundo com quem sentimos que podemos compartilhar de tudo, disse que eu era uma dessas, que nunca debocharia das suas idéias mais loucas e que faria de tudo pra tentar compreender, que ela até mesmo esquecia, ás vezes, o quão era tímida ao meu lado.
Lembro-me de uma vez, estavamos falando sobre o tema de ciências, e ela já parecia absorta por qualquer coisa que não fosse o que eu falava. Fitava o chão, mas me respondia. Foi quando me interrompeu em meio a fala e perguntou: "Já imaginou como seria se o céu fosse cinza e o asfalto fosse azul?" Eu gostava da maneira como pensava. Da maneira extrovertida com que nos perguntava coisas que nem faziam sentido.
Estava claro: Ela era um mar de fantasias, um sonho para quem a ouvisse. E eu era alguém que queria viver esse sonho.

Acalmei-me, minha segunda reação ao digerir bem a descoberta foi pensar que agora eu era uma menina que estava apaixonada por outra. Isso viria a me causar diversas dores de cabeça no futuro, eu sabia.
Nada em meu interior quis lutar contra esse fato de amor "anti-moralista", eu aceitei desde o princípio que isso era só mais uma condição, uma consequência de todas as que estar apaixonado provoca. Estar apaixonada é o que eu não queria aceitar.
Viver um descaso por quê? Ela não me quereria. E eu não iria querer mais uma ilusão por agora. Já me bastava todas as que tinha!
Não, obrigado, Clara. Você não iria governar meu coração.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

He's Waiting

Pensou em fugir pela janela da cama ou pela janela da escrivaninha, calculou que coisas como essa demorariam 5, no máximo 10 minutos. Mas o telhado era muito íngrime, tinha medo. Restava-lhe esconder-se debaixo da cama como fizera diversas vezes e todas fora inútil. Mas ainda era melhor agarrar-se a qualquer coisa que desse a ela a falsa sensação de segurança do que esperar ser devorada pelo lobo.
Quis ir, mas ficou estática fitando a porta de olhos arregalados. A porta que agora parecia tão frágil ia cedendo cada vez mais e não ia demorar muito para que cedesse de vez. Assimilava-se a aquela porta. Estava com tanto medo naquele momento que cederia. Via-se romper, rachar, sucumbir cada vez mais a cada batida. Estavam ambas agora ocas. Os cupins já haviam roído a porta e a desgraça a havia roído.
Ajoelhou-se ao pé da cama e então desejou estar em outro lugar, ser outro alguém, ter outra casa, outra família, outro rosto... Desejou até mesmo ser outra 'coisa", que não humana. Queria ser um fluído! Sabia que tais coisas como essa eram impossíveis, mas acreditava em um milagre. TINHA que acreditar, era o que a mantinha viva.
A porta roumpeu-se.
Desventurada criança. Dir-se-ia um animal feroz com sede, um leão em cima de um pobre cordeiro. Seu corpo mirrado debatendo-se por de baixo daquele corpo bárbaro. Não poderia deixar-se fraquejar. Ações que só serviram para cansá-la mais ainda. Gritava, mas era inútil, as mãos rudes do irmão espremiam sua boca com tamanha força e grosseria que seus punhos franzinos não faziam a menor diferença.
Ninguém a viria salvar.
O desespero que envadira tão pequeno coraçãozinho acalmara-se. Enfraquecera por fora e por dentro e o animal dera o bote. Todos sabemos: teria acontecido mais cedo ou mais tarde.
Os minutos que se sucederam depois foram tão repulsivos que nem a mais sórdida das criaturas ousaria testemunhar o trágico desfecho que se seguiu.
O rosto perplexo no chão, manchado. O batom que passara, borrado. Os lábios de uma garotinha assustada agora eram lábios de quem engolira toda a sujeira do mundo.
Ela mantinha os olhos bem abertos, levava neles um "que" de aceitação. Aceitara a morte? Aceitara tudo. Estrebuchada no chão era a perfeita imagem da desonra e da descrença.
Foi para o quarto, dormiu assim mesmo.
Dormiu tranqui-la. Dormiu suja.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Não explique

Estou feliz que você esteja de volta
Mas silêncio, agora, não explique.
Você sabe que eu te amo
E o que o amor suporta
Todos os meus pensamentos são sobre você
Sou completamente sua...
Então não explique.
Não quero ouvir fofoca de ninguém
Porque eu sei que você me trai
Se é certo ou errado, não importa.
Por que quando você está comigo, meu amor...

'Damien Rice