9 Crimes - Damien Rice

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Roy

Para aqueles que o conheceu - os amigos - chamamo-lo Roy.
Para outros ele era conhecido, enquanto que horripilados, Toxic Roy.

Ele adorava amoníaco e amianto,
e muita fumaça de cigarro.
O que ele respira no ar,
faria as outras pessoas se engasgar!

Seu brinquedo mais favorito era uma lata de spray aerosol,
Ele se sentava calmamente e esguichava o emprei em sí
Todos os dias.

Ele espreitava dentro da garagem no início da geada manhã,
À espera do carro arrancar e encher-o com o exaustor.

Eu nunca vi chorar Toxic Boy,
A ùnica vez somente foi quando um cloreto de sódio caiu de seu olho.

Um dia, para pegar ar fresco, colocaram-o no jardim
Seu rosto ficou mortalmente pálido e seu corpo começou a endurecer.
O último suspiro, de sua curta vida, fora doente e desesperado
"Quem imaginou que você poderia morrer ao respirar ao ar livre?"

Quando a alma de Roy deixou seu corpo, todos nós fizemos uma oração silenciosa.
E, esvoaçando ao céu, ele deixou um buraco na camada de ozônio.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Maria Maculada

Profanou-a com seu consentimento.
Depois veio a dizer na cidade que era mera formalidade de rapaz renomado, plebeu.
Mas era um errante.
Suas calúnias eram apenas um embuço para moças de boa fé - como ela - de sua devassidão, sua libertinagem discarada e seu vilipêndio. Vilipêndio de amores de outrora, vilipêndio de si.
Mas ela era inexperiente, não entendia.
Se a disessem tamanhas injurías defenderia o amado como a mãe loba defende os seus filhotes, mas sem a força agreste e feroz que tais animais possuem, não, nada disso a pertencia. Negaria, cairia em descaso. As pessoas são maldosas, sentem prazer em desmantelar a felicidade de todos que vêem.
Preferia suas rendas, seus sonhos bordados de criança, as juras espúrias que ele roubara dos poucos livros que lera.
Cairia em desgosto mais tarde, o veria na praça, envolto por um realce acetinado, refletido a luz do sol que assemelhava-se a um vestido de moça. Era uma cintura atada a dele e não era a dela. Demorou a entender que não era, de fato, ela. Pensara por alguns segundos ter sonhado, mas acordara à risadas dos dois amantes.
Tinha ânsia de choro, mas enguli-o. Por minutos pensou o que teria feito de errado.
Caiu em desdouro.
Sentiu asco não dele, mas da juventude.
Quis-lhe arracar a face, os anos. Não conseguira.
Não suportaria ser jovem. Não suportaria amar.
Estava repleta de desonra e vergonha.
Sua ingênuidade é que a matara.

Depois de um tempo ainda era a Maria igênua da cidade. Maria Maculada. E achava graça, não sabia bem de português.