O que te trazes aqui? Fermentação cuspida? Já não faz mais sentido tuas palavras, alusivas.
Cavando, cavando...?
Mas tudo tira o foco. Tudo tira a alma.
Tudo tira!!
Que ordem é essa? Ou não é ordem?
Não é!
Ah, não é...
Não é de Não ser.
De ser sem nunca ser.
De pegar, e no entanto, cuidar não estar pegando.
O homem de barba branca no papel machê? Rasga!
Busca dentro qualquer conteúdo que não as mesmas coisas anuais.
Meias...
Cega-me as luzes do pinheiro de natal,
mas cega-me mais ainda tua presença abusiva!!
A perturbar-me nesse natal rançoso.
Que mesmo de mansinho, anuncia um colapso incompreensível.
Pisco os olhos para não ver-te. Mas tu já és o próprio pinheiro!!
Poéme. Desde quando nossas relações tornaram-se assim?
Juro que perdi esse momento cometido por mim mesma.
Por mim mesma.
O desapego nas expressões contidas. No ás vezes planejado.
No amor sob medida.
Na vida não vivida?
Na cautela da alma calejada..
Que acredita estar sendo comedida, mas só acredita.
E anuncia na canção natalina
Que uma vez que mergulha, afunda.
Malditos amores de final de ano,
Que ao invés de viajar como todo mundo,
faz-se presente quando mais ninguém está.
25/12/13
9 crimes
9 Crimes - Damien Rice
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
A Carta de Marius à Cosette
"A redução do universo a uma única criatura, a dilatação de um único ser até Deus, eis o amor.
O amor é a saudação dos anjos aos astros.
Como a alma é triste quando sua tristeza provém do amor!
Que vazio é a ausência do ser que sozinho encheria o mundo! Oh! como é verdade que o ser amado se transforma em Deus. É fácil compreender como Deus sentiria ciúme se o Pai de todas as coisas não tivesse evidentemente feito a criação para a alma, e a alma para o amor.
Basta um sorriso entrevisto ao longe sob um chapéu de tule branco e coifa lilás, para que a alma entre no paraíso dos sonhos.
Deus está por trás de tudo, mas tudo a Deus esconde. As coisas são negras, as criaturas são opacas. Amar alguém é torná-lo transparente.
Certos pensamentos são verdadeiras preces. Há momentos em que, seja qual for a atitude do corpo, a alma está de joelhos.
Os amantes separados iludem a ausência por mil e uma quimeras que têm no entanto a sua realidade. Impedem-nos de se verem, interceptam-lhes as cartas; eles porém encontram meios misteriosos de se corresponderem: pelo canto dos passarinhos, o perfume das flores, o riso das crianças, a luz do sol, os suspiros do vento, o brilho das estrelas, a criação inteira. E por que não? Todas as obras de Deus são feitas para servir o amor. O amor é bastante poderoso para encarregar toda a natureza de levar-lhe as mensagens.
Ó primavera! Você é a carta que eu lhe escrevi.
O futuro pertence bem mais aos corações do que aos espíritos. Amar, eis a única coisa capaz de ocupar e encher a eternidade. Ao infinito convém o inesgotável.
O amor participa da própria alma. Tem a mesma natureza que ela.
Como a alma, é uma fagulha divina; como a alma, é incorruptível, indivisível, imperecível. É um ponto de fogo que está em nós, que é imortal e infinito, que nada pode limitar ou extinguir. Nós o sentimos queimar até a medula dos ossos e o vemos brilhar até a imensidão dos céus.
Ó amor! adorações! prazer de dois espíritos que se compreendem, de dois corações que se confundem, de dois olhares que se penetram! Não é verdade que os hei de ter — ó felicidade! — passeios a dois na solidão, dias abençoados e brilhantes! Às vezes chego a pensar que, de quando em quando, algumas horas se destacam da vida dos anjos e vêm até o mundo para atravessar o destino dos homens. Deus nada pode acrescentar à felicidade dos que se amam senão tornando-os eternos. Depois de uma vida de amor, uma eternidade de amor é com efeito um acréscimo; mas aumentar em sua própria intensidade a felicidade inefável que o amor dá à alma desde este mundo, isso é impossível, mesmo a Deus. Deus é a plenitude do céu; o amor é a plenitude do homem.
Contemplamos uma estrela por dois motivos: porque é luminosa e porque é impenetrável; e, no entanto, temos ao nosso lado um brilho mais suave e um mistério maior ainda, a mulher.
Todos nós, quem quer que sejamos, temos a necessidade de respirar. Se nos falta o ar, ficamos sufocados e morremos. Morrer por falta de amor é horrível. É a asfixia da alma.
Quando o amor fundiu e unificou duas almas, numa unidade angélica e sagrada, foi que ambas encontraram o segredo da vida; não são nada mais que os dois termos de um mesmo destino, as duas asas de um mesmo espírito. Amem, flutuem! No dia em que uma mulher, passando à sura frente, iluminar o seu caminho, você está perdido: é o amor. Então, só lhe restará uma coisa: pensar nela tão fixamente que ela se veja constrangida a pensar em você.
O que o amor começa não pode ser acabado senão por Deus.
O verdadeiro amor se desola e se encanta por uma luva perdida ou por um lenço encontrado, e precisa de uma eternidade para sua dedicação e esperanças. Ele se compõe, ao mesmo tempo, do infinitamente grande e do infinitamente pequeno. Se você é pedra, seja ímã; se é planta, seja sensitiva; se é homem, seja amor.
Para o amor, é bastante. Termos a felicidade, queremos o paraíso; temos o paraíso, queremos o céu.
Vocês que tanto se amam, tudo isso está no amor. Saibam encontrá-lo. O amor tem tanta contemplação como o céu, e mais do que o céu, tem o prazer.
- Ela ainda vem ao Luxembourg? – Não, senhor. – É nesta igreja que ela ouve a missa, não é? – Eles não aparecem mais por aqui. – Ela ainda mora nesta casa? – Não; mudou-se. – Para onde? – Ela não disse.
Que tristeza não se saber o endereço da própria alma!
O amor tem infantilidades, as outras paixões têm mesquinhez. Vergonha às paixões que tornam o homem mesquinho! Honra àquela que o faz criança!
É uma coisa estranha, sabem? Eu vivo na noite. Há alguém que, ausentando-se, levou consigo o céu.
Oh! jazer um ao lado do outro no mesmo túmulo, de mãos dadas, e de quando em quando, nas trevas, acariciar docemente um dedo; isso bastaria para a minha eternidade.
Vocês que sofrem porque amam, amem mais ainda. Morrer de amor é viver.
Amem . A esse suplício alia-se uma sombria e estrelada transfiguração.
Há êxtase na agonia.
O alegria dos passarinhos! Eles cantam porque têm um ninho.
O amor é uma respiração celeste do ar do paraíso.
Corações profundos, espíritos sábios, recebam a vida como Deus a fez. É uma longa prova, uma preparação, ininteligível para um destino desconhecido. Esse destino, o verdadeiro, começa para o homem no primeiro degrau que desce para o túmulo. Só então lhe aparece alguma coisa, e ele começa a distinguir o definitivo. O definitivo, pensem nessa palavra. Os vivos vêem o infinito; o definitivo só se deixa ver pelos mortos. Enquanto isso, amem e sofram, esperem e contemplem. Desgraçado de quem não tiver amado senão os corpos, as formas, as aparências! A morte roubar-lhe-á tudo. Procurem amar as almas, e tornarão a encontrá-las.
Encontrei pela rua um jovem muito pobre que amava. Seu chapéu estava velho, a casaca muito usada com os cotovelos rotos; a água passava através de seus sapatos e os astros através de sua alma.
Que grande coisa ser amado! Maior ainda é amar! O coração torna-se heróico à força da paixão. Ele não se compõe mais senão de pureza; não se apóia senão no que é nobre e grandioso. Um pensamento indigno nele pode germinar tanto quanto uma urtiga no gelo. A alma alta e serena, inacessível às paixões e às emoções vulgares, dominando as nuvens e as sombras deste mundo, as loucuras, as mentiras, os ódios, as vaidades, as misérias, mora no azul do céu, e não sente senão os abalos profundos e subterrâneos do destino, como o alto das montanhas sente os tremores de terra.
Se não houvesse quem amasse, o sol se extinguiria”.
Victor Hugo em Os Miseráveis - pág. 826,827,828
O amor é a saudação dos anjos aos astros.
Como a alma é triste quando sua tristeza provém do amor!
Que vazio é a ausência do ser que sozinho encheria o mundo! Oh! como é verdade que o ser amado se transforma em Deus. É fácil compreender como Deus sentiria ciúme se o Pai de todas as coisas não tivesse evidentemente feito a criação para a alma, e a alma para o amor.
Basta um sorriso entrevisto ao longe sob um chapéu de tule branco e coifa lilás, para que a alma entre no paraíso dos sonhos.
Deus está por trás de tudo, mas tudo a Deus esconde. As coisas são negras, as criaturas são opacas. Amar alguém é torná-lo transparente.
Certos pensamentos são verdadeiras preces. Há momentos em que, seja qual for a atitude do corpo, a alma está de joelhos.
Os amantes separados iludem a ausência por mil e uma quimeras que têm no entanto a sua realidade. Impedem-nos de se verem, interceptam-lhes as cartas; eles porém encontram meios misteriosos de se corresponderem: pelo canto dos passarinhos, o perfume das flores, o riso das crianças, a luz do sol, os suspiros do vento, o brilho das estrelas, a criação inteira. E por que não? Todas as obras de Deus são feitas para servir o amor. O amor é bastante poderoso para encarregar toda a natureza de levar-lhe as mensagens.
Ó primavera! Você é a carta que eu lhe escrevi.
O futuro pertence bem mais aos corações do que aos espíritos. Amar, eis a única coisa capaz de ocupar e encher a eternidade. Ao infinito convém o inesgotável.
O amor participa da própria alma. Tem a mesma natureza que ela.
Como a alma, é uma fagulha divina; como a alma, é incorruptível, indivisível, imperecível. É um ponto de fogo que está em nós, que é imortal e infinito, que nada pode limitar ou extinguir. Nós o sentimos queimar até a medula dos ossos e o vemos brilhar até a imensidão dos céus.
Ó amor! adorações! prazer de dois espíritos que se compreendem, de dois corações que se confundem, de dois olhares que se penetram! Não é verdade que os hei de ter — ó felicidade! — passeios a dois na solidão, dias abençoados e brilhantes! Às vezes chego a pensar que, de quando em quando, algumas horas se destacam da vida dos anjos e vêm até o mundo para atravessar o destino dos homens. Deus nada pode acrescentar à felicidade dos que se amam senão tornando-os eternos. Depois de uma vida de amor, uma eternidade de amor é com efeito um acréscimo; mas aumentar em sua própria intensidade a felicidade inefável que o amor dá à alma desde este mundo, isso é impossível, mesmo a Deus. Deus é a plenitude do céu; o amor é a plenitude do homem.
Contemplamos uma estrela por dois motivos: porque é luminosa e porque é impenetrável; e, no entanto, temos ao nosso lado um brilho mais suave e um mistério maior ainda, a mulher.
Todos nós, quem quer que sejamos, temos a necessidade de respirar. Se nos falta o ar, ficamos sufocados e morremos. Morrer por falta de amor é horrível. É a asfixia da alma.
Quando o amor fundiu e unificou duas almas, numa unidade angélica e sagrada, foi que ambas encontraram o segredo da vida; não são nada mais que os dois termos de um mesmo destino, as duas asas de um mesmo espírito. Amem, flutuem! No dia em que uma mulher, passando à sura frente, iluminar o seu caminho, você está perdido: é o amor. Então, só lhe restará uma coisa: pensar nela tão fixamente que ela se veja constrangida a pensar em você.
O que o amor começa não pode ser acabado senão por Deus.
O verdadeiro amor se desola e se encanta por uma luva perdida ou por um lenço encontrado, e precisa de uma eternidade para sua dedicação e esperanças. Ele se compõe, ao mesmo tempo, do infinitamente grande e do infinitamente pequeno. Se você é pedra, seja ímã; se é planta, seja sensitiva; se é homem, seja amor.
Para o amor, é bastante. Termos a felicidade, queremos o paraíso; temos o paraíso, queremos o céu.
Vocês que tanto se amam, tudo isso está no amor. Saibam encontrá-lo. O amor tem tanta contemplação como o céu, e mais do que o céu, tem o prazer.
- Ela ainda vem ao Luxembourg? – Não, senhor. – É nesta igreja que ela ouve a missa, não é? – Eles não aparecem mais por aqui. – Ela ainda mora nesta casa? – Não; mudou-se. – Para onde? – Ela não disse.
Que tristeza não se saber o endereço da própria alma!
O amor tem infantilidades, as outras paixões têm mesquinhez. Vergonha às paixões que tornam o homem mesquinho! Honra àquela que o faz criança!
É uma coisa estranha, sabem? Eu vivo na noite. Há alguém que, ausentando-se, levou consigo o céu.
Oh! jazer um ao lado do outro no mesmo túmulo, de mãos dadas, e de quando em quando, nas trevas, acariciar docemente um dedo; isso bastaria para a minha eternidade.
Vocês que sofrem porque amam, amem mais ainda. Morrer de amor é viver.
Amem . A esse suplício alia-se uma sombria e estrelada transfiguração.
Há êxtase na agonia.
O alegria dos passarinhos! Eles cantam porque têm um ninho.
O amor é uma respiração celeste do ar do paraíso.
Corações profundos, espíritos sábios, recebam a vida como Deus a fez. É uma longa prova, uma preparação, ininteligível para um destino desconhecido. Esse destino, o verdadeiro, começa para o homem no primeiro degrau que desce para o túmulo. Só então lhe aparece alguma coisa, e ele começa a distinguir o definitivo. O definitivo, pensem nessa palavra. Os vivos vêem o infinito; o definitivo só se deixa ver pelos mortos. Enquanto isso, amem e sofram, esperem e contemplem. Desgraçado de quem não tiver amado senão os corpos, as formas, as aparências! A morte roubar-lhe-á tudo. Procurem amar as almas, e tornarão a encontrá-las.
Encontrei pela rua um jovem muito pobre que amava. Seu chapéu estava velho, a casaca muito usada com os cotovelos rotos; a água passava através de seus sapatos e os astros através de sua alma.
Que grande coisa ser amado! Maior ainda é amar! O coração torna-se heróico à força da paixão. Ele não se compõe mais senão de pureza; não se apóia senão no que é nobre e grandioso. Um pensamento indigno nele pode germinar tanto quanto uma urtiga no gelo. A alma alta e serena, inacessível às paixões e às emoções vulgares, dominando as nuvens e as sombras deste mundo, as loucuras, as mentiras, os ódios, as vaidades, as misérias, mora no azul do céu, e não sente senão os abalos profundos e subterrâneos do destino, como o alto das montanhas sente os tremores de terra.
Se não houvesse quem amasse, o sol se extinguiria”.
Victor Hugo em Os Miseráveis - pág. 826,827,828
domingo, 20 de janeiro de 2013
"Meus amores", por uma qualquer 3 - ato final
Me casei duas vezes. Minha primeira mulher fora a mulher da minha vida. A perdi para outra. Ela julgou-me que não era boa o suficiente para ela, mas a outra também não fora. Nem a outra, nem a outra...
Sofri por ela. Fui eu quem mais lutei contra essa sua doença, enquanto ela não parecia fazer esforços para mudar. Apesar de tudo, ela foi a mulher mais encantadora que eu conheci. Era uma boa moça que se perdeu na vida, vítima da sua insatisfação. Um desperdício. Nunca compreendera que tinha o suficiente. Nunca fora feliz, para ela. Era linda, mas achava-se feia. E o tempo a tornou tudo o que pensava ser.
Vive sozinha em sua pequena ilusão.
No fim não sabe - como poderia? - mas vai ver é isso que a satisfaz: ser insatisfeita.
A segunda foi um erro de quem não aprende. Na verdade, é um erro chama-la de erro, mas é igual a todas as mulheres que conheci.
Apesar de tudo, não me incomoda. Já fomos muito apaixonadas, construímos muitas coisas.
Viver ao lado dela não é bom, nem é ruim. Viver ao lado dela é viver ao lado dela. E prefiro assim. Agora no fim da vida não tenho mais ânimo e não tenho mais alma para procurar e viver um novo amor.
Isso é privilégio da juventude. De quem ainda tem muito que machucar-se para celebrar poucos instantes de amor. E no final descobrir que nada sabe, nada valeu, nada viveu.
Sofri por ela. Fui eu quem mais lutei contra essa sua doença, enquanto ela não parecia fazer esforços para mudar. Apesar de tudo, ela foi a mulher mais encantadora que eu conheci. Era uma boa moça que se perdeu na vida, vítima da sua insatisfação. Um desperdício. Nunca compreendera que tinha o suficiente. Nunca fora feliz, para ela. Era linda, mas achava-se feia. E o tempo a tornou tudo o que pensava ser.
Vive sozinha em sua pequena ilusão.
No fim não sabe - como poderia? - mas vai ver é isso que a satisfaz: ser insatisfeita.
A segunda foi um erro de quem não aprende. Na verdade, é um erro chama-la de erro, mas é igual a todas as mulheres que conheci.
Apesar de tudo, não me incomoda. Já fomos muito apaixonadas, construímos muitas coisas.
Viver ao lado dela não é bom, nem é ruim. Viver ao lado dela é viver ao lado dela. E prefiro assim. Agora no fim da vida não tenho mais ânimo e não tenho mais alma para procurar e viver um novo amor.
Isso é privilégio da juventude. De quem ainda tem muito que machucar-se para celebrar poucos instantes de amor. E no final descobrir que nada sabe, nada valeu, nada viveu.
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